07 junho 2006

estrangeiros

Toda esta confusão à volta da reportagem sobre a extrema-direita em Portugal tem gerado muitas conversas pelo meu gabinete e algumas surpresas. Quase todos os meus colegas têm origens miscegenadas - inglesas, judaicas, brasileiras, angolanas, japonesas, chinesas, you name it - o que não só enriquece as nossas conversas como nos leva a ver as coisas de perspectivas bem diferentes.
Hoje revelaram-me que se sentem estranjeiros em qualquer lado. Fiquei de boca aberta (será que é muita ingenuidade minha?). Eu sentia-me estranjeira quando vivia na Alemanha mas, aterrando no Aeroporto da Portela, estava na minha terra.
Como é que pessoas que nasceram e viveram em Portugal, sem estarem fechados em nenhum tipo de gueto, que torcem pela Selecção Nacional e se riem das mesmas piadas, se podem sentir estrangeiras? Como é que podem mesmo sentir receio que os movimentos de extrema-direira ganhem tanta força que isso possa ter implicações directas na vida deles?
Às vezes acho que o facto de haver tantos filmes sobre o racismo, a intolerância, o Holocausto tem o mesmo efeito das reportagens diárias sobre a guerra no Médio Oriente: transforma a realidade em espectáculo e dessensibiliza-nos.

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