12 setembro 2014

contra a glorificação do sorriso

Encaremos as coisas com frontalidade: às vezes estamos em baixo. Caramba, e não há problema nenhum nisso. Por que é que nos havemos de sentir obrigados a dar a volta por cima a todo o instante? Estou cansada desta urgência de encontrar uma espécie de felicidade a todo o custo. Quero acarinhar todos os meus estados de alma, quero conseguir respeitar os desânimos da mesma forma que me deixo embalar pelos momentos de alegria e entusiasmo. É que o contrário é um esforço inglório e injusto. Que sentido há, suponhamos, em termos um filho sempre bem-disposto e outro com flutuações de humor, e querermos estar apenas com o primeiro? Tal como luto para acolher o que sou fisicamente, com as minhas forças e fraquezas, também quero aceitar o que sinto, como me sinto, verbalizá-lo - "hoje estou triste." E estar bem mesmo quando não estou.

9 comentários:

Ana. disse...

Concordo contigo em absoluto, não mudo uma vírgula.
Também estou cansada da motivação sempre em altas, dos dias perfeitos, dos lugares perfeitos, da obrigação de nos sentirmos sempre bem com tudo, de aceitarmos tudo como se de uma lição do universo se tratasse.
Às vezes são só estados de alma.

:)
ou então

:|

que também é bom e saudável!

Ana disse...

Ora bem, abraçar a tristeza da mesma forma como abraçamos a alegria. Não sabe tão bem, mas uma não existe sem a outra!

MS disse...

concordo!
há mais quem concorde e muito quem não perceba :)

http://www.publico.pt/n1596740

gralha disse...

Pois é, MS. Não há de ser coincidência eu estar tantas vezes alinhada com a perspectiva do Dr. Mário Cordeiro (não conhecia esta crónica).

Mãe Sabichona, abraçar é só quando chegar ao nível 7 do jogo. Para já contento-me com não tentar escorraçar ;)

Anamê, a obrigação é que me lixa. Desculpem lá se as minhas trombas ocasionais vos incomodam. E as não ocasionais também.

Amigo Imaginário disse...

As saudades que eu tenho de ouvir alguém queixar-se das cruzes quando perguntamos como está! Por aqui, quando nos perguntam "Ça va?", a resposta é sempre "Ça va". Não há cá nuances nenhumas. Ora isto até pode passar por boa educação, mas não deixa de ser de um cinismo enorme por parte de quem pergunta (de forma retórica) e de quem responde (de forma automática). :(

gralha disse...

Da próxima vez que cá vieres, Amigo Imaginário, cortas o cabelo por 5,5€ (incluindo lavagem e brushing!) e ainda ouves a cabeleireira a queixar-se da vida. E da vida dos outros. 100% garantido ou devolveremos o seu dinheiro.

SMS disse...

Concordo a 100%. :) Não há nada mais enervante que esta doença da felicidade a toda a prova. Parece que temos de gritar a todo o instante: ESTOU FELIZ, ESTOU FELIZ!!!!

Melissa disse...

Não podia concordar mais. É que não podia, mesmo.

dona da mota disse...

Meio termo, o que faz falta é o meio termo. Eu ainda ando a aprender a gerir o que me pede o corpo, com regra. Já a alma... Normalmente respondo sempre que está tudo bem. "Tudo bem?" "Tudo bem!!!" E ás vezes não está.
Na semana passada ligou-me uma senhora e eu respondi: Mais ou menos. Houve ali uma pausa e ela gaguejou: Eu também estou mais ou menos. Houve ali uma libertação, sentiu-se à vontade para dizer que não, não estava tudo bem.
Pensei imenso naquilo. Especialmente na minha resposta. Parece qua está sempre tudo bem mas não é verdade. uns dias está, outros não. Quando está fico contagiante, distribuo sorrisos e bom astral, quando não está, não está, embora tente não andar a espalhar terror, ahahahahaahahahahah
Mas olha que há pessoas que não glorificam minimamente o sorriso, e isso também cansa...